quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Pra botar o bloco na rua em 2013

Despede-se o mês de fevereiro, apaga-se todo o brilho de qualquer purpurina remanescente. Restam as recordações e o carnaval foi tão bom que alguns recortes ainda estão bem vivos no coração. Eu vou pensando, lembrando de outros anos e me pergunto quando aflorou esta paixão momesca. Ainda muito pequena, lembro de assistir das arquibancadas, as escolas desfilarem na avenida com meus pais, minha tia, comendo milho verde. Lembro do ano em que meu avô Lindolfo de Freitas, fundador do Rancho Qualquer Nome Serve foi homenageado na decoração da avenida com seu rosto pintado num imenso pandeiro. Lembro das matinês no Minas, as fantasias cheias de plumas. Mais adiante me vejo cortando e amarrando as pontas das fronhas velhas para vestir de gatinho. Depois os anos dos primeiros bailes, Vermelho e Branco no Athletic, e Hawaí na praça de esportes. E como parecia infinita a sexta-feira de carnaval, com o ‘Pão Molhado’ e ‘Alvorada’ no final. Foi neste ponto que em meio a tantas boas lembranças me entristeceu lembrar que a Banda do Pão Molhado não existe mais.
Era um bloco tão grande, mostrava-se tão forte, pulsante, com entusiasmo inesgotável, perene. Saia do Tijuco, arrastando uma multidão que invadia as ruas e desfilava num caminhão seu enorme pão, teoricamente molhado (seja com caldo de galinha ou cachaça), e ainda com distribuição de outros pãezinhos menores aos foliões!
Com início nos anos 70, desfilou por mais de 30 anos, mas acabou. O que faltou? Faltou passar o bastão, fazer despertar nos jovens o amor à batucada, faltou alimentar a magia de celebrar a vida com os amigos. Não faltou farinha, mas o fermento da renovação. Faltou entregar o anel de bamba a quem merecesse usar.
Não! Não ouso nem imaginar ver meus dois blocos mais queridos, ‘Copo Sujo’ e ‘Unidos da Cambalhota’ virar lembrança de um carnaval pro outro. Não! Não se pode deixar órfãos os foliões de hoje, não podemos desmerecer nossa riqueza cultural, nosso tradicional carnaval. Se a voz está cansada ensine alguém a cantar, mas veja bem, com a mesma emoção! Deixe a direção para alguém que também carregue o espírito do bloco, não cabe vaidade no samba. Deixe outro ritmista tomar seu lugar na bateria se seu braço não tem mais a mesma força pra tocar o surdo. Espontaneamente queira botar seu bloco na rua, chore sem vergonha de mostrar sua paixão, mas quando a bateria não mais te deixar arrepiado com as tradicionais paradinhas, é hora de dar um passo atrás e deixar passar à frente outro irmão ainda contagiado.
Para ser bloco de carnaval são-joanense é preciso amor incondicional e alegria, entender de harmonia, ter serpentinas e confetes escondidos em algum lugar durante o ano todo. Ser conjunto, massa, mas com algo de peculiar, seja um pão gigante ou um colchonete no chão para dar cambalhotas; um trocadilho com a ‘praia’ local; uma alegria inexplicável contida num refrão! Seus foliões podem estar de fraldas e chupetas; há de ser de faz de conta para homem vestir-se de mulher ou ainda unir a juventude pelo abadá cheio de cor. Abraçar uma respeitável velha guarda, outrora da ‘bandalheira’, com espírito infantil! Precisa desfilar na contramão da primeira hora da manhã ou protestar contra a política num deboche de que tudo continua sempre a mesma... ‘lerda’!
Não! Só não pode se deixar morrer, achar ridícula a fantasia e assim esquecê-la em casa, deixar cair pela ladeira ou da ponte da cadeia, o entusiasmo num samba menor, porque aí, não só cantaremos as lágrimas que o Roberto derramou, mas também as de centenas e centenas de arrebatados foliões. Pense nisso, você tem a quaresma, o ano inteiro, até o próximo fevereiro... se ascender!
Samba do Pão Molhado:
“Eu vim de longe só pra te ver
Dei a volta por cima e voltei pra você
Eu quero poder ainda ser feliz
Ouvir o sino da Matriz
Oh minha terra querida
Eu andei vagando por aí
Mas nunca me esqueci do meu lado verde e branco
Oh Pão Molhado
Esperei o ano inteiro
Pra chegar em fevereiro e reviver minha raiz”
Fonte: Vídeo 'Bloco do Pão Molhado'