quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Dona da lua


Eu já fui dona da lua! É isso mesmo, a lua era minha, em todas as fases, mais especificamente a lua cheia e todo seu brilho envolvente, todo seu misterioso poder. Era eu quem apontava e dizia, vem cá, olha que linda a lua esta noite! Eu era soberana diante daquele disco de prata e a exibia orgulhosa. Era meu código, meu trunfo, um elo, uma sempre testemunha, uma mensagem, uma admiração mútua, uma vã certeza, uma esperança, a realidade do sonho, um sentimento satélite, uma poesia, um olhar, uma busca, um segredo. E como assim ela não é mais minha?
Pois a vida expôs as escolhas cruéis, a sociedade fez sua pressão hipócrita e o tempo foi implacável como é. Eu não estava pronta para ter a propriedade da lua e talvez nem ela estivesse pronta para ser minha (minha?!). Ela se escondeu na nuvem da dúvida, durante a tempestade das vaidades. Ela foi encoberta pelas mangueiras do jardim da solidão, e eu ainda fechei a janela para o rastro do seu brilho não me alcançar, tamanho era o medo do incerto!
A lua pertence aos amantes, aos que seguem o caminho que dita o coração, aos corajosos de plantão! Hoje ela ilumina outro rosto, está sobre outra sintonia, mesmo que o céu seja o mesmo, que sua órbita esteja inalterada, a lua inspira outro sussurro, acelera outro coração, invade outra alma. Eu aceito a condição e fico com as estrelas (e estrelas não são migalhas!), a lua já não me pertence mais. Mas um dia foi minha, legalmente e naturalmente, e ela reinou nas minhas noites, ela vigiou meus sonhos para torná-los real, eu lembro bem e essas coisas não se esquece. Vai lua cheia, a revelar as entranhas, a saudar os telhados, a pratear o córrego, a varrer os campos, a despertar as paixões, que eu na condição de ex-proprietária, não posso sentir inveja dos que a possuem agora (e talvez pra sempre) no olhar, só desejo que continue a ser chama suave entre os abraços e faça muitos outros amantes conhecerem a plenitude dos bons momentos!