Esses pássaros de papel... Bailam no fim da tarde num céu tingido de anil e com nuvens de fogo. Bailam para você e para mim! Bailam em bandos nos arredores da Gameleira, Araçá, Águas Férreas, nas escadarias das Mercês, bailam nos morros, do Bonfim e Senhor do Montes, bailam. É dança embalada pelo vento, ao sussurro do vento, o vento como par. Corta o céu em pontos de outras cores, em vôos ligeiros e faceiros, alucina os meninos, desperta o encanto da infância nos adultos. Festa do firmamento, alegoria do outono, animação matreira nas alturas da minha cidade.
Esses lúdicos pássaros de papel, eu lembro... Estão no chão do corredor, na linha de montagem, a tesoura vencendo a seda em cores vivas, a cola branca unindo, facas afinando gravetos, as linhas transpassando, amarrando e arrematando, as tiras de plástico ganhando nós numa longa calda franjada, a lata de óleo vazia que se torna grande carretel. Meninos em algazarra, o sorriso é fácil, tecem planos de vôo, desafios, manobras. Eu sou menina não posso brincar, sirvo só para ajudar na decolagem. Ela, a pipa, em minhas mãos, segura e erguida pela ponta até o instante poderoso de um bom sopro de vento. E ele vem, bate, leva e nos liberta da sede de pequenos aviadores. Subimos com ela, hipnotizados, numa saborosa pressa de ganhar as nuvens. O menino a conduz, pilota com orgulho, empina, se contorce, corre, foge, busca, cruza e apenas um vence a guerra inocente. Ouço a lata de óleo cair ao chão, os braços em frenético movimento puxam o quanto podem, num ato desesperado de quem tenta salvar seu passarinho que, como filhote, não aprendeu ainda as malícias do céu. Sem maestro, sem rumo, cai papagaio na antena do vizinho e lá vai ficar num movimento de coreografia triste, conformada, sem fascínio, sem compasso, preso à solidão. É agora, em vareta de bambu e papel rasgado, o quadro da desolação de um moleque que viu o sonho de voar chegar ao fim. Não houve o regresso às mãos, de nada adiantaram seus comandos e esforços, fim da linha e no fim da linha, nada. Mas outros virão, e irão decolar, povoar os fins de tarde, flutuar, brincar e cair. Comprados no Bar do Português com o escudo do time de coração, fabricados em casa ou não, de seda da papelaria, de seda de escrever carta, de seda da caixa de sapato, ou ainda bem improvisado, de folha de caderno. Já foram em maior número, pois os brinquedos e entretenimentos de hoje são outros... Mas soltar pipa no computador não tem graça, não tem cabimento, não há como 'fabricar' tal sensação, não existe esse jogo.
Então olhe para o céu, é julho, temporada dos pássaros de papel!
segunda-feira, 8 de junho de 2009
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Kk, parabéns! Acabamos de ler seu texto e estamos encantados e emocionados. Muito bom mesmo!!! Vc está cada vez melhor. Bjão,
ResponderExcluirRaquel e Weber
Obrigada amigos! Voltem sempre! Bjos
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