Somos o resultado do nosso meio, das nossas vivências e também das nossas preferências. Nosso modo de relacionar é moldado assim também e contém deslizes, etapas de sensatez, momentos intempestivos e atitudes erradas e outras certas, momentos de reflexão intensa e que podem tanto acarretar em bons resultados ou verdadeiros desastres. Mas o pior ( ou necessário) fator de desequilíbrio é a paixão, e eu me rendo, confesso de joelhos como em um confessionário do século XVIII na sacristia de uma tradicionalíssima igreja barroca do interior de Minas: Sim! Sou movida por paixões! E nesta semana estou apaixonada... Pelas eleições para presidente em segundo turno! Estou achando tudo extraordinário, mas também pesado e tenho críticas à respeito principalmente nas redes sociais (uma outra paixão minha). Mas o saldo é positivo eu acho, porque mesmo aos trancos e barrancos estamos exercendo a cidadania, estamos fazendo o que deve fazer um eleitor em vésperas de votação e aos mais atuantes e engajados estamos em campanha pelo voto dos indecisos e ainda outros mais audaciosos em busca de reverter um voto adversário. Fantástico isto, mas... somente até o momento da luta no âmbito das ideologias, quando esgotados os argumentos racionais, vem ela, a paixão falar mais alto e é aí que muitos escorregam (até eu, sim!), nós viramos de costas, usamos de agressividade, alguns de palavreado baixo, e atacamos na esfera do pessoal com ofensas imponderadas, externando essência primitiva, expondo a inveja às vezes, aquelas guardadas à sete chaves da tolerância nas profundas gavetas das iniquidades.
Mas voltando a minha paixão, como boa apaixonada leio tudo sobre as eleições, cada opinião, e veja bem, leio com cuidado opiniões favoráveis ao meu candidato e desfavoráveis também, cada texto polêmico de blogueiro polêmico partidário e apartidário (que são poucos), acompanho pesquisas e suas interessantes margens de erro, fico nervosa em debates na TV. Leio também o que sai na imprensa e esta parte é das mais tristes porque ela deveria ser isenta, como aprendi na faculdade, mas ela anda pobre e medíocre. No entanto é na loucura das redes sociais onde mais mergulho, e absorvo tudo, as artes em design tosco, as mais primorosas e inteligentes àquelas onde erraram feio na informação, no checar dos dados, e foram compartilhadas automaticamente. Tem de tudo! Tem o 'preto no branco' pra conferir pronunciamentos ditos com verdade nos olhos que não passam de mentiras descaradas. E alto lá, tem 'preto no branco' favorável a cada candidato porque como já disse a isenção na imprensa passa longe. Fantástico! É uma corrida maluca onde a maioria já escolheu um dos pilotos, e os defende aguerridamente porque foram escolhidos de acordo com suas convicções que por sua vez foram construídas a partir das suas vivências, do meio em que você viveu e das suas preferências. Numa destas leituras de depoimentos próprios (aqueles que dou mais atenção porque vieram de um pouco de reflexão pessoal mesmo que contenha algum índice ou foto de compartilhamento), uma professora quase me conquistou, ela chamava a atenção para a distorção exagerada, para a manipulação a todo custo, mas no fim, veio o desastre, ela declarou seu voto e fui analisar o porquê. O porque da maioria da classe médica ter escolhido um candidato é a mesma coisa da maioria dos professores terem escolhido o outro. A mesma coisa no fundo! Escolhas baseadas na vivência, no meio, nas preferências, nos estudos que fizeram durante a vida, dos autores que se identificavam e leram sempre, é individual, é e sempre foi consciente ou não um voto egoísta. Consciente ou não! Nós assimilamos o que nos convém de acordo com nossa bagagem, de acordo com nosso nível de conhecimento e acesso a este conhecimento, uns com mais capacidade, outros com menos. Somos todos diferentes e iguais ao mesmo tempo. No fim a minha verdade é igual a sua verdade e embora sejam diferentes verdades não somos mentirosos. Acreditamos na nossa certeza do que elegemos ser o melhor para nós e ao país ao mesmo tempo, equação longa daquelas que o x foi obtido de acordo com os anos vividos. Esta é nossa maior influência, o resto é blábláblá, mimimi. Desde que consciente e jamais vendido, não existe voto errado. Mas existe voto certo! Qual é o certo? Daqui a quatro anos conversaremos novamente sobre o assunto, isso se eu estiver apaixonada! Ah claro, e depois de quatro anos ainda assim poderemos discordar...