Setembro é bom.
Quem não gosta? A cigarra canta, a primavera se aproxima, a flor desponta, o sol se enobrece. Eu sempre gostei. Quando criança esperava setembro e as luzes enfeitando as barraquinhas no Largo para a festa de Nossa Senhora das Mercês. Era bonito ver o jardim, as árvores e os cordões de lâmpadas, da janela no sobrado da rua Dr. José Mourão, 164. Setembro era e é bonito em São João del Rei.
Num dia de setembro à tarde, fui brincar na pracinha e tinha hora pra voltar pra casa: assim que as luzes das barraquinhas se acendessem, ditou meu pai. Eu me distraí e voltei muito mais tarde do que o combinado. Levei uma bronca como poucas vezes na vida e aprendi que deveria prestar mais atenção às luzes.
Num dia depois da novena, fomos para as barraquinhas. Eu adorava a barraca do aviãozinho. A brincadeira era apostar uma ficha num país da mesa redonda e o aviãozinho de lata colorida tinha que parar no tal país para se levar a prenda. Geralmente um frango assado de padaria em meio a alfaces e fios de ovos ou uma garrafa de vinho tinto. Eram prendas doadas por vizinhos, simples, o negócio era ajudar nas despesas da festa das Mercês. E então girava a hélice, o aviãozinho com sua luzinha levantava vôo diante de vários olhinhos admirados - não voava muito alto, era preso - e voava em círculos, rodava, rodava e a gente torcia, torcia para ele pousar e parar no país escolhido na grande mesa-mundo. Fecho os olhos e posso ouvir o som do motorzinho e as crianças gritando o nome dos países escolhidos. Rússia!!! Ali o aviãozinho parou e com sua luzinha iluminou o nome escrito em vermelho. Ganhamos um frango. Depois de algumas apostas, papai percebeu que a mesa estava tombada para um lado e o aviãozinho só parava nos países deste lado. Nesta noite voltamos para casa com 3 frangos e duas garrafas de vinho, às gargalhadas, não pelos prêmios, mas pela descoberta dos países tombados na mesa-mundo!
O dia maior da festa, 24, era muito esperado. Alvorada, banda, sinos, fogos. O andor rodeado de flores. Naquele tempo Nossa Senhora das Mercês parecia ter os braços mais abertos... Ou eu parecia ter mais fé? Ela descia as escadarias da igreja com seus cabelos de cachinhos balançando. O hino, cuja letra nunca mais esqueci, era cantado pelos fiéis e a banda executava também a Marcha das Mercês. Assim que ela acabava de descer o último degrau eu corria para casa, para a varanda de trás. A procissão passava pela rua Resende Costa e por cima do muro dava para ver só as luzes da sua coroa. Eu acompanhava aquelas luzes até elas desaparecem na inclinação da rua. Por fim, a chegada da procissão, a emocionante benção aos enfermos no hospital, a subida das escadarias com os fogos pipocando por todos os lados num conjunto de luzes coloridas iluminando o largo, o céu e meu rosto. Todo ano é assim, em setembro!
É um presente o ano ter sempre setembro.
Desejo pra você, amigo de ‘Ambição’, um mês 9 cheio de luz e encantadores pequenos momentos da vida!
Num dia de setembro à tarde, fui brincar na pracinha e tinha hora pra voltar pra casa: assim que as luzes das barraquinhas se acendessem, ditou meu pai. Eu me distraí e voltei muito mais tarde do que o combinado. Levei uma bronca como poucas vezes na vida e aprendi que deveria prestar mais atenção às luzes.
Num dia depois da novena, fomos para as barraquinhas. Eu adorava a barraca do aviãozinho. A brincadeira era apostar uma ficha num país da mesa redonda e o aviãozinho de lata colorida tinha que parar no tal país para se levar a prenda. Geralmente um frango assado de padaria em meio a alfaces e fios de ovos ou uma garrafa de vinho tinto. Eram prendas doadas por vizinhos, simples, o negócio era ajudar nas despesas da festa das Mercês. E então girava a hélice, o aviãozinho com sua luzinha levantava vôo diante de vários olhinhos admirados - não voava muito alto, era preso - e voava em círculos, rodava, rodava e a gente torcia, torcia para ele pousar e parar no país escolhido na grande mesa-mundo. Fecho os olhos e posso ouvir o som do motorzinho e as crianças gritando o nome dos países escolhidos. Rússia!!! Ali o aviãozinho parou e com sua luzinha iluminou o nome escrito em vermelho. Ganhamos um frango. Depois de algumas apostas, papai percebeu que a mesa estava tombada para um lado e o aviãozinho só parava nos países deste lado. Nesta noite voltamos para casa com 3 frangos e duas garrafas de vinho, às gargalhadas, não pelos prêmios, mas pela descoberta dos países tombados na mesa-mundo!
O dia maior da festa, 24, era muito esperado. Alvorada, banda, sinos, fogos. O andor rodeado de flores. Naquele tempo Nossa Senhora das Mercês parecia ter os braços mais abertos... Ou eu parecia ter mais fé? Ela descia as escadarias da igreja com seus cabelos de cachinhos balançando. O hino, cuja letra nunca mais esqueci, era cantado pelos fiéis e a banda executava também a Marcha das Mercês. Assim que ela acabava de descer o último degrau eu corria para casa, para a varanda de trás. A procissão passava pela rua Resende Costa e por cima do muro dava para ver só as luzes da sua coroa. Eu acompanhava aquelas luzes até elas desaparecem na inclinação da rua. Por fim, a chegada da procissão, a emocionante benção aos enfermos no hospital, a subida das escadarias com os fogos pipocando por todos os lados num conjunto de luzes coloridas iluminando o largo, o céu e meu rosto. Todo ano é assim, em setembro!
É um presente o ano ter sempre setembro.
Desejo pra você, amigo de ‘Ambição’, um mês 9 cheio de luz e encantadores pequenos momentos da vida!
Foto: Imagem de Nossa Senhora das Mercês por KK
Saudadess...de vc e disso tudo!!! Bjo, Ju.
ResponderExcluirVIVA A CESINHA!!!
ResponderExcluirQue Ela nos abençoe sempre!!!
bjos
érica
Nuuuuuuuu,
ResponderExcluirdeu até uma vontade de voltar a ser criança e fazer tudo isso que vc escreveu.
Tb já ganhei frango e vinho no aviãozinho!
Que Ela nos abençõe tooooooodos os dias!!
Os braços Dela não estão menos abertos, a gente é que cresceu mesmo... e a fé a gente recupera com força de vontade!!
Bjinhos,
Bia Flor
Amiga, é tão bom ler suas palavras... Elas me fazem passear no tempo e relembrar coisas que ficam guardadas no fundo das recordações...
ResponderExcluirQue Nossa Senhora das Mercês nos abençoe. Bjs, Dani
Obrigada meninas! Eu escrevo pra vcs!!! Bjos e amém!
ResponderExcluirSaudades... da infância, das barraquinhas, do frango, da primavera na terriha... dessa terra de fé chamada SJDR! Bjos, Babi
ResponderExcluirÉ... Mais um setembro, mais um ano de saudade!!!
ResponderExcluirBjos da amiga e agora tb comadre!!!
KK, seu texto eh mto bom de ler!!! Adorei suas recordações! Bjs, Jamille
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