Anos atrás, num Largo do São Francisco de vastas, sadias, abundantes e verdejantes copas de palmeiras imperiais, um dedicado pai, que mais parecia um avô, explicava cada detalhe da ‘festa’ para sua filha durante a Rasoura de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos. Era preciso contar a história da comenda, aquela condecoração que se via pregada no manto de veludo roxo da imagem, e chamar a atenção para a Marcha dos Passos tocada com perfeição pela Banda do 11º BI. Ao dobrar os sinos, ensinou o porquê do chamado ‘combate’ que consiste na disputa entres os sinos das torres do Carmo, Matriz e São Francisco, cada qual reclamando sua imagem de volta, e lembrou ainda da vez que o badalo caiu no adro e quase feriu uma pessoa. Quando avistou o amigo de longa data, José Gaede, no início do cortejo, falou da sua grande dedicação à Ordem, e assim que verificou a abundância de hortênsias aos pés de Jesus, comentou que felizmente naquele ano os jardins da igreja produziram bonitas flores. Os olhos daquele apaixonado pai brilhavam, não sei se pelo belo espetáculo de fé que era a Rasoura, ao redor daquele monumento barroco com seu exuberante jardim, ou por estar ali na honrosa missão de passar adiante aquela piedosa tradição são-joanense.
Tantos anos se passaram, reformaram-se os jardins, palmeiras foram arrancadas pelo vento ou cortadas pelo homem, pessoas queridas se despediram, mas o Cristo continua sua marcha e o brilho está no olhar daquela filha!
O texto abaixo foi escrito após a Festa de Passos do ano de 2004.
Festa dos Passos
Os cheiros: Do rosmaninho espalhado no chão das igrejas do Carmo, Matriz e São Francisco, do incenso purificando as ruas por onde passa a procissão ou elevando as orações dos fiéis diante dos andores.
As cores: Das orquídeas que pendem da cruz de Nosso Senhor dos Passos, das flores do andor de Nossa Senhora das Dores, do roxo - cor da festa - que cobre as vestes das imagens e enfeitam os badalos dos sinos, dos trajes das Irmandades e Ordens, dos tons variados das hortênsias que formam o tapete onde se ajoelha Jesus.
Os sons: Da marcha dos Passos executada por nossas tradicionais bandas, do tocante silêncio dos Depósitos, dos sinos em combate que deixam mais vivas as tardes de sábado e domingo, dos cânticos da bicentenária orquestra Ribeiro Bastos, do burburinho das senhoras rezando o terço durante os cortejos, das palavras emocionadas de quem presencia tamanha manifestação de beleza e fé.
As lições: Foi um padre de São Paulo que acompanhara a festa pela primeira vez quem disse, em sermão, estar de fé renovada. Ele ateve-se a detalhes como a tradição daqueles que carregam o andor dizer “deu graça” no momento de parar, de chamar a representação do episódio do encontro da mãe e do filho de “festa”, da denominação “rasoura” para conceituar pequena procissão em torno da igreja, do carinho com que se preparam os andores, enfim de toda a emoção peculiar do evento. Coisas que para muitos de nós são-joanenses passam despercebidas. Este mesmo padre fez um apelo: Que o povo de São João del Rei preserve esta tradição. Amém, padre Carlão! AMÉM!
Foto: Imagem de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, exposta para veneração na Igreja de São Francisco-Festa dos Passos 2005
Ai ai, essa amiga, viu, consegue sempre me deixar com um gostinho imenso de passar as festas, como a de Passos, aí em Sj, ao vivo e a cores e com todos os cheiros!!! E que São José nos ajude a conservar toda essa tradição! Bjo, poeta!! E, mais uma vez, parabéns!!
ResponderExcluirJU