sábado, 9 de maio de 2009

Ela


- Tem tanta mexerica na fruteira, vai estragar, você não come.
- Mãe, eu não gosto de descascar mexerica, deixa minha mão fedendo!
- Não fala assim... pecado. Eu descasco pra você!
- E tira os fiapinhos brancos dos gominhos? Só assim que eu vou comer.
- Tiro.
Algum tempo depois volta ela com um pratinho cheio de gominhos de mexerica.
- Toma, tá docinha.
- Ah mãe, mas você não tirou bem os fiapinhos brancos...
- Não reclama, estou me sentindo fraca, não estou agüentando.
- Desculpa mãe, vou comer... ó to comendo! E enfiei logo um gomo inteiro na boca.
As lágrimas de repente despencaram em seu rosto.
- Minha filha, você sabe, eu estou...
- Não, mãe! Não fala nada! Pára com isso! Eu te proíbo de falar isso! Disse com raiva. E ela nunca mais tocou no assunto assim como eu nunca mais comi mexerica.
Tão pouco, 19 anos de convivência! E o qual é o tempo suficiente de se conviver com as mães? Para pedir perdão, pedir conselho, pedir um colar emprestado. Para rir do passado, reclamar do presente, planejar o futuro ou só para comentar o dia quente, o último capítulo da novela, o prato do almoço, a flor nova que desabrochou no jardim da vizinha. De quanto tempo precisamos para cuidar de nossas mães e assim ‘tentar’ retribuir tamanho carinho e dedicação?
Não há o que se mensurar! Todo dia, toda hora, todo instante, com intensidade, quem não quer sentir e provar do maior amor do mundo?
Feliz dia das mães, aquelas poderosas, donas deste amor!


Ao acordar-me,
sorria fechando os olhos
-Tá na hora.
Pura de alma,
picava mamão, salpicava açúcar.
Olhar de bondade.
Terços para Nossa Senhora do Carmo.
Os outros antes,
moedas para Santo Antônio.
Gestos firmes e delicados.
Do mercado trazia flores.
Amor irracional,
bife com batata frita todos os dias!
Reservada, amiga de poucas palavras.
Torta Sonho de Valsa de sobremesa.
Simples e elegante,
flor de manacá, linho, broche, anel de pérola, carteira.
Feliz, romântica,
“E o vento Levou”, “Guerra e Paz”, “Morro dos ventos uivantes”, “Ave do Paraíso”.
Cuidadosa, protetora, orgulho só dos filhos.
Costura, crochê, arroz doce, biscoito frito e rosca do Rei.
Susto, mudança, dor e despedida. Não!
Amor incondicional.
Muxinga, éden, Edna!
Ao sonhar, nossos encontros...

Foto 1: Ela comigo no colo, 1977.
Foto 2: Ela, Edna, só não sei em que ano, com que idade.

3 comentários:

  1. Acho que nâo se encaixa nehuma palavra para comentar.Coisas assim não se tenta, a não ser sentir e refletir.

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  2. Nem toda eternidade seria suficiente para o relacionamento mãe e filha. Aproveitemos o que nos é permitido.

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  3. Acho que nem todo o tempo do mundo ao lado delas seria suficiente para retribuirmos esse amor incondicional...

    PS: Texto de emocionar amiga! Como vc se parece com ela (na primeira foto).... lindas as duas!

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