domingo, 31 de maio de 2009

A pombinha branca

Imaginem... Se possível for!
O Circo do Sr. Perry instalava-se nos arredores, centenas de barracas eram montadas, como também era grande o movimento de vai e vem de carros de boi. Dezenas de famílias ficavam acampadas em casinholas improvisadas, cabanas de capim, numa verdadeira mudança provisória para o local. Alugar casas para os três dias de festa também era comum para famílias de romeiros que chegavam das fazendas e vilarejos de toda a redondeza. Também havia cavalhadas, bailados e corrida de touros (oi?)! Notáveis barões e coronéis doavam grandes somas em contos de réis para a realização da festa nos moldes tradicionais. Nos restaurantes e botequins, por preços razoáveis, eram servidos jantares, almoços, ceias, sopas, cafés com sequilhos, vinhos, licores finos e doces de toda sorte. À Estação Chagas Dória, chegavam cerca de 42 trens diários, com volume estimado em 11 mil romeiros por dia! No lado profano, como sempre há, o imponente Pavilhão de Exposições acolhia animado restaurante, teatro de fantoche e também jogatinas de roletas entre outros jogos de azar.





O posto de “Imperador do Divino” era uma grande honra, sua tarefa era promover a festa. Um dos memoráveis imperadores foi o de 1810, Coronel Inácio Correa Pamplona, tido como o terceiro denunciante dos Inconfidentes. Já o Imperador perpétuo, escolhido pelos comerciantes e pelo povo, era Santo Antônio. No dia que antecedia a grande festa, um folclórico cortejo saia do Largo de São Francisco com a imagem do Imperador Perpétuo conduzida em rica e adornada liteira. Banda, congado, bandeiras e fiéis acompanhavam o cortejo até a igreja onde acontecia os festejos. No terceiro e dia maior da festa, alvoradas festivas, congados e levantamento de mastros, missas, dança das fitas, apresentação de pastorinhas, chegada de reis e rainhas, cortejo imperial, retretas, coroação do novo imperador e finalmente, grande procissão do Divino Espírito Santo com despedida dos congados, descida dos mastros e foguetório de encerramento.

Conseguiram vocês visualizar todo este esplendor acerca dos festejos do Jubileu do Divino? Pois era exatamente assim, com toda a pompa e dimensão, a Festa do Divino Espírito Santo de 1774 até 1924 no bairro de Matosinhos. Era concedida indulgência plenária, autorizada pelo Papa Pio VI, aos fiéis que, em um dos três dias de Pentecostes, tendo confessado e comungado, visitasse a igreja de Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos da cidade de São João del-Rei, diocese de Mariana, Minas Gerais.
A suspensão da festa como tal foi ordem da Conferência Episcopal da Província de Mariana, com drástica resolução do Rev. Bispo de Mariana, Dom Helvécio, em 1923. A alegação era que a festa tinha tomado grandes proporções e era comum surgirem brigas, práticas de roubos e frequentes excessos com jogos de azar.
Para sorte nossa, desde 1998 a festa foi resgatada por um grupo de pessoas lideradas pelo artista sacro Osni Paiva e pelo pároco de Matosinhos, Padre José Raimundo da Costa. Assim se tenta, ano após ano, manter as mesmas tradições, com uma outra e maior igreja de Matosinhos (a antiga foi demolida em 1960), sem o Pavilhão de Exposições Artísticas (também demolido), sem corridas de touros, e sem 42 trens diários desembarcando milhares de romeiros na Estação Chagas Dória, mas ainda com o cortejo do Imperador Perpétuo em liteira saindo do Largo de São Francisco, com muitas barracas de comidas típicas na praça de Matosinhos, jogos de azar eletrônicos (proibidos, mas tem sim!) muitos congados, folias do Divino, apresentações de grupos folclóricos e... O povo, incansável na fé do Divino Espírito Santo.

Dia 31 de maio de 2009 - Dia de Pentecostes
Espírito, Espírito, desça-nos como fogo, vem como em Pentecostes e renove a todos nós!

Foto1: Antigo Pavilhão de Exposições Artísticas de Matosinhos (Guia das Vertentes)

Foto2: Cortejo do Imperador Perpétuo (a imagem de Santo Antônio é transportada dentro desta Liteira) - Foto do portal 'O grande Matosinhos'

Fontes: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del Rei-volume IX, 'O grande Matosinhos' e 'Portal do Divino'

2 comentários:

  1. Uma ótima reportagem, gostaria de acrescentar que a portadada igreja se encontra em SP,em sítio, e sobre custodia. Futuramente retornará a Sao Joao del-Rei. Gostaria de corrigir tb, que a Igreja do Bom Senhor Jesus do Matosinhos, foi demolida em 1970, e não em 1960 ( em 1960 foi a instalação ) Para melhor compravação, digite no google THIAGO HERDY TESOURO DE MINAS PORTAL - terminarei este ano uma maquete da antiga igreja

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  2. Obrigada pela contribuição Cesar! Volte sempre! Gostaria de ver esta maquete! Abçs!

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