sexta-feira, 19 de junho de 2009

Sentença que não se aceita e fim

Manhã de quinta pós-carnaval. O celular no silencioso. Nunca ligavam àquela hora, mas se acontecesse, não queria que tocasse no meio da aula, é muito chato. Não sei porque resolvi olhar. Uma chamada não atendida. Era a Lê, minha amiga. Estranho. Resolvi ligar, devia ser algo relevante. Era. Ela me contou sobre a Roberta. Aos 27 anos, casamento marcado, ela foi encontrada no seu banheiro em meio a lençóis e remédios. Era bonita, cabelos longos, lisos e pretos, lábios muito vivos. Determinada. Falava alto e tinha voz rouca, entende? Risada espalhafatosa, mas risada de verdade, aquelas que se dá com vontade e se dobra para trás. Deu para imaginar como era pessoa de presença?
Não lembro como nos tornamos amigas, mas era bom. Ela fazia calda de chocolate e colocava em cima do biscoito Maria, mania. Eu lembro exatamente o jeito como ela arrumava os fios de cabelo da sua franja. Na nossa famosa foto de 15 anos, era a única de luvas e pose de modelo, timidez ela nunca soube o que era. Inteligente. Trazia consigo a audácia, a polêmica e a arrogância, tanta que às vezes até irritava. Sua nota tinha que de ser a melhor e era. Uma vez a desafiei para um teste de conhecimentos gerais com 40 perguntas, coisa de criança. Nem precisa dizer que ela se saiu melhor, fiquei com cara de boba.
Lembro de uma madrugada que me encontrou triste e aconselhou: Não dependa de ninguém para ser feliz, busque construir sua própria felicidade! Gravei a frase na alma, pelo conteúdo e pelo carinho. Mas e ela, não lembrava mais desta frase?
Batalhou o sonho de ser promotora, estudou muito, perseverou, sacrificou sábados de sol, noitadas com a galera. Conseguiu, venceu! Tequila na comemoração. Estávamos todos orgulhosos dela. Foi profissional notável, destemida, exagerada e repreendida, seu jeito, enfim. Comprou briga até com prefeito. Tinha um Brava, era da pá-virada e fazia barraco por ciúmes sim. Mas iria se casar. Essa é a Ró, sempre será, minha amiga. E essa é sua história.
Ficam as saudades especiais, gostosas, destas que só se tem quando se passa uma adolescência inteira juntas. Tantas viagens, conversas e segredos. O último encontro foi no teatro, monólogo de Elisa Lucinda, estava de férias, feliz. Repito e grito: Estava feliz!
Que estúpido, Ró! Estou com raiva de você, estou com dor, estou sem te ver!
Não pude ir... Dizem que estava serena, de terninho azul. Margaridas no pescoço.
Incrédulo! Fui no outro dia e vi as muitas coroas.
Que impotência! Que angustia não entender!
A Karine, outra amiga, ligou para desabafar, se sentia um pouco culpada.
“Nos distanciamos, talvez com uma única conversa tudo se resolveria...” chorou ao telefone. Mas você Ró, se apresentava sempre tão forte, tão enorme, tão muralha, como imaginar que algo tão violento estivesse tomando sua mente?
Para você, uma Ave Maria e minha eterna lembrança. E para todo mundo, um aviso: Por favor, estou aqui, se algo te aflige, vem e me conta!

Escrita em 2002, ano em que ficamos sem a Ró.

3 comentários:

  1. Belas palavras...acho que ela se orgulharia delas!

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  2. Nossa Kk, chorei tanto. E ultimamente penso tanto nela e sinto saudades. Ela sempre me faz falta, ela sabia dizer as coisas que a gente precisava ouvir. Mas onde ela estiver tenho certeza que sabe o carinho que sempre sentimos por ela. Bjs. Lelê

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  3. Kaka como pude , por um minuto, ou meses, esquecer de uma amiga que não só diante do Cristo Redentor me fez chorar, mas lendo sua linda e desdenhosa saudação final a uma amiga especial, que como mtas te rastrearão por toda a vida,quem não choraria. Por que? Por ser especial, doce,coração, linda,verdadeira, alma pura,obrigada por saber que tenho vc para contar se um dia a muralha estremecer. Amo-te.Da eterna amiga Rita Quintino

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