terça-feira, 17 de março de 2009

Saco de moedas

Não vou alimentar a polêmica sobre a questão da verba municipal para a Semana Santa 2009 em São João del Rei. Como diria Djavan em “Fato consumado”, No fundo eu julgo o mundo/ um fato consumado/E vou-me embora/Não quero mais/De mais a mais/Me aprofundar/Nessa história. Mas, quando envolve a questão dinheiro, as coisas sempre ficam complicadas. E eu penso que no momento que se revive o porquê de nossa fé, na hora em que nos mergulhamos numa, talvez única, reflexão no ano sobre nossas culpas mais íntimas, não deveríamos ter a preocupação com o montante que o Nivaldo irá conceder para ajudar nas celebrações da Semana Santa - um dos eventos que fomenta a atividade econômica da própria cidade que ele governa. Embora eu não consiga ver, desculpem-me, o que pode mudar nos rituais sagrados com R$60 mil (verba de 2008) ou R$ 25 mil reais (verba proposta em 2009). As flores dos andores serão menos ricas? Não será usado no programa da paróquia um papel especial? Voltemos mais os olhos para o aspecto religioso da festa, menos correria turística, menos aspecto cultural. Se todos se empenharem por preservar a Semana Santa do jeito que sempre foi, os turistas aparecerão, a cultural irá se expandir, o comércio irá lucrar, a economia se movimentará, e assim vai... E qual o custo disto, em que se gasta os recursos repassados? Qual a grande infra-estrutura que necessita o Ofício de Trevas, o Lava-pés? Tem mesmo que comparar o capital para a maior data católica com o do carnaval? Eu sei que em São João, sagrado e profano se misturam, mas atenção, nesta procissão não entra serpentina.
Ai gente, perdão, sou a primeira a defender tudo de tradicional em São João, mas eu acho que vou ver minha Ação Litúrgica da Sexta-feira Santa do mesmo jeito que vejo há mais de 20 anos, com a beleza tocante da Adoração da Cruz, com as lindas músicas da Orquestra Ribeiro Bastos na Sagrada Comunhão que arrepiam até o último fio de cabelo, com o rosmaninho pelo chão, tudinho igual. Óbvio que tudo tem um custo, nada sai de graça, nem pela paixão e morte de Jesus, mas nossa Semana Santa é assim há mais de 200 anos, será que em todos esses 200 anos a prefeitura precisou contribuir com dezenas de mil reais, cruzeiros, cruzados, contos de réis? Quem promove a Semana Santa da Matriz é uma Irmandade, a do Santíssimo Sacramento. Qualquer pessoa pode fazer parte, e contribuir anualmente com uma pequena quantia. Com muitos irmãos, a Irmandade se tornaria mais consolidada financeiramente e não dependeríamos tanto do governo municipal. Em tempo, a paróquia Nossa Senhora da Conceição em Prados realiza uma Semana Santa tão rica quanto a nossa, sem nenhuma contribuição da prefeitura e está reformando a Matriz com recursos próprios e com a ajuda da população!
O que importa é se envolver espiritualmente, é buscar enaltecer o verdadeiro propósito de reviver a dor Daquele que nos deu a força da fé, e nunca pediu verba para isso. Nossa... peguei pesado? Foi muito clichê, lugar-comum para um texto só? E olha que eu nem queria apimentar essa bacalhoada. Será que ando entrevistando padres demais esses dias?
Para ser justa deixo o link da página da Gazeta, do último sábado, com a opinião sobre o assunto da antropóloga Suely Franco.
Foto1: Tapete de rua no Largo do Rosário por Kiko Neto

Foto2: Descendimento da Cruz por Beni Jr

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