segunda-feira, 9 de março de 2009

Pão com queijo e canela

Que eu amo São João Del Rei todo mundo que me conhece já está cansado de saber. Mas o que não se sabe é porque eu babo tanto por esta cidade. Se isto é lá coisa que se explique, talvez seja por causa dos pequenos únicos detalhes daqui. E estar em São João estes dias para as eleições municipais, me faz reviver cada um destes especiais pormenores. Desde o apitar da Maria Fumaça até o badalar das horas na Matriz, passando pelo encanto de ver os telhados dos casarões iluminados pelo sol ou as luzes das igrejas à noite. São tantas particularidades, mas hoje quero falar especialmente do Pão com Queijo e Canela de uma certa padaria do centro. Legítima iguaria são-joanense ou não, que pão é aquele, minha gente? Hummmmmmm...Hoje passei em frente e não resisti. Comprei um! Mal pude me agüentar para chegar em casa e comê-lo, ou melhor, devorá-lo. E tem toda uma história, um ritual junto...A começar pelo papel, daqueles cinzas, parece que vindos de uma usina de reciclagem. Mas estes papéis são muito antigos e nasceram bem antes de toda esta onde ecologicamente correta.
Para fechar bem o pacote, um barbante! Sim, um barbante, quer coisa mais pitoresca?!! Que delícia desfazer o nó e ir desembrulhando aquele pão...E o cheiro? Cheiro de pão doce enamorado com queijo derretido e canela....hummmmm. Eu logo parti pro meio do pão onde o delicioso recheio é abundante, muito mais recheio que pão, pra falar a verdade. Fica até difícil de segurar o danado...cai queijo pra todo lado, não tem jeito. Acho até que por isso aquela casca marrom seja grossinha demais para um pão doce. Tem que reforçar de alguma forma para aprisionar o teimoso queijo em pelotas que tenta escapar dos nossos ávidos lábios desejosos de apanha-lo. Que relíquia das nossas quituteiras são-joanenses! Que primor das padarias!
E amo mais ainda aquela parte que é meio recheio, meio pão, aquela bem molhadinha, cremosinha, saca? Tão docinha, tão macia, tão saborosa, um sonho!!! Desmancho-me! É uma mistura do doce discreto da massa do pão com um que de salgadinho do queijo e uma pitada de frisson com a dona canela. Talvez comparada com uma mistura, assim de...dor e prazer, loucura e razão, amor e paixão!
A história por trás, claro, é que meus pais compravam de vez em quando lá em casa...De vez em quando, infelizmente. Era quando tinha visita (droga, tinha que dividir com a visita), um parente que veio se hospedar em casa, uma data festiva qual não teria festa e sim um lanche caprichado. Ou, a minha vez preferida, o dia de pagamento do papai. Ele passava no banco tirava o ‘ordenado’ (adoro essa palavra) e comprava o tal pão para o nosso lanche especial de ‘dia-do- pagamento-fim-do-sufoco’. Um agrado, um regalo, um brinde para o meu paladar, um carinho para minha alma infantil. Claro que eu levava uma bronca enorme, um sermão cruel porque partia o pão já lá no pecaminoso meio, atrás do ponto com recheio mais farto. A questão é que além dos meus pais, tenho três irmãos, porque eu ficaria logo com a melhor parte? Comia aquela fatia com culpa, sob um olhar desaprovador de meu pai, mas feliz com a gulosa façanha.
Hoje, parti meu pão sem ouvir reclamações, comi sem o peso da reprovação e tomada de intensa saudade. Vou degustá-lo devagar, sozinha, um tiquinho triste pela solidão momentânea, mas feliz por estar aqui na minha terra, por ter essas lembranças comigo e...o pão! Com todo o seu queijo especial, todo o seu sabor de canela, inteirinho, miolão e pontas menos privilegiadas, tudinho só pra mim!!!
Santo Antônio abençoe este pão e perdoe a minha gula!

KK Freitas, outubro/2008

3 comentários:

  1. Esse é 10! Parabéns amiga pela iniciativa. É tão bom poder dividir com vc o seu amor por SJ... Melhor ainda é sentir o gosto e o cheiro da Terrinha nas suas doces palavras!

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  2. KK,

    lembrança feliz esta do pão com queijo da Padaria Santo Antônio, que fica no fim da Avenida Presidente Tancredo Neves, antigamente Rui Barbosa, tendo como fundos o Pau D'angá e seu alto cruzeiro em cima de uma pedreira que, de tão pontuosa, parece de papelão, daquelas de presépio e visitação de 5a feira santa. Quando criança, morava ali perto.

    Pão com queijo era o que meu pai me mandava, mesmo quando já não andava mais. Pelas pernas dos outros o pão saía da padaria, ia até a sua casa e, de lá, até mim, mil quilômetros mais longe.

    Desde que ele morreu não como mais pão com queijo. E não comerei mais. Virou lembrança e ausência, coisas que não se come. A não ser na alma terna de seu relato, que me levou longe e que agradeço. Grande abraço. Emilio.

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